A pesquisa amparada pela Fapeam foi apresentada na Jornada Científica da FVS-RCP
Foto: Divulgação/Acervo de Kaísa Lindomara dos Santos Figueiredo
Um estudo recente analisou a mortalidade por Aids no Amazonas, destacando o perfil sociodemográfico dos óbitos, a evolução temporal da mortalidade, o padrão de distribuição espacial e temporal, além dos fatores de risco e principais determinantes sociais, durante o período de 2007 a 2023. A pesquisa foi apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), via Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic), desenvolvida na Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP).
A pesquisa intitulada “Análise espacial e temporal da mortalidade por Aids no Amazonas: uma abordagem sobre iniquidades”, desenvolvida pela graduanda em Medicina da Universidade Nilton Lins, Kaísa Lindomara dos Santos Figueiredo, foi premiada com o 2º lugar na 10ª Jornada Científica da FVS-RCP. O evento reconheceu os trabalhos de maior destaque acadêmico, concedendo menções honrosas aos três primeiros colocados, em celebração à excelência e relevância das pesquisas apresentadas.
Com a coordenação do doutor em Ciências Biológicas (Zoologia), Timoteo Tadashi Watanabe, da FVS-RCP, e sob a orientação do doutor em Epidemiologia em Saúde Pública, Daniel Barros de Castro, da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), o estudo investigou os padrões temporais e espaciais dos óbitos e os fatores individuais e sociais associados.
“A pesquisa traz uma importante contribuição social ao evidenciar as desigualdades regionais e sociodemográficas que afetam a mortalidade por Aids no Amazonas. Ela mostra claramente quais populações estão mais vulneráveis e aponta caminhos para o fortalecimento das políticas públicas, como a descentralização dos serviços de saúde, a expansão da atenção básica, a ampliação da testagem precoce e o foco em populações-chave”, afirmou Kaísa Figueiredo.
Durante esse período (2007 a 2023), foram registrados 3.829 óbitos por Aids no estado. A análise revelou duas tendências: entre 2007 e 2012 houve um crescimento anual de 15,84%, seguido de uma redução média de 7,32% ao ano entre 2012 e 2023. Nesse aspecto temporal, o estudo observou um crescimento da mortalidade até 2012 e, a partir desse ano, uma queda sustentada.
E sob a ótica de uma análise espacial, foi verificado inicialmente a interiorização dos óbitos para municípios, como: Tefé (distante a 523 km da capital) e os da calha do Rio Solimões e Alto Rio Negro. A partir de 2012, houve aumento em regiões do Baixo Solimões e do Baixo Amazonas. Após 2016, as taxas começaram a cair no interior, mas permaneceram elevadas em Manaus, Parintins (369 km) e Autazes (113 km).
O perfil das vítimas revelou ainda que o maior risco de óbito é em homens (73%), pessoas pretas (90%), jovens adultos (12-39 anos) e residentes da capital (82%). A transmissão sexual foi predominante (99%). Os fatores de risco identificados foram: idade avançada, sexo masculino, uso de drogas injetáveis e, principalmente, o diagnóstico já em estágio de Aids, que aumentou em 34 vezes a chance de óbito.
“É importante reforçar que a luta contra a Aids vai além do diagnóstico e do tratamento. Ela envolve também dimensões sociais, culturais e geográficas. Por isso, é essencial investir em educação, em saúde, redução do estigma e fortalecimento das comunidades mais vulneráveis, para que a resposta à epidemia seja de fato abrangente e eficaz”, observou Kaísa Figueiredo.
O estudo foi realizado a partir de dados secundários do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinam) e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Para a análise, foi utilizado o modelo Joinpoint na avaliação temporal, mapas temáticos no QGIS (software livre com código-fonte aberto) para a análise espacial e regressão logística multivariada para identificar fatores de risco. Além disso, foi realizado o record linkage entre as bases, o que possibilitou caracterizar melhor os óbitos.
Apoio da Fapeam
“O apoio da Fapeam foi fundamental. A bolsa de iniciação científica viabilizou a execução do projeto, garantiu acesso às bases de dados e possibilitou minha formação acadêmica e científica, fortalecendo também a pesquisa aplicada à saúde pública no Amazonas”, reforçou Kaísa sobre a importância do apoio da Fapeam.
O Paic/Fapeam contribui de forma significativa para o fortalecimento da pesquisa científica no Amazonas, oferecendo bolsas e oportunidades para que estudantes de graduação participem ativamente de projetos desenvolvidos em instituições de ensino e pesquisa, promovendo a formação de novos talentos, a geração de conhecimento e o avanço da ciência na região.
Premiação do Paic
Em 10 anos de Paic/Fapeam na FVS-RCP, 113 pesquisas foram realizadas por 105 bolsistas. A jornada científica contou com a apresentação em pôsteres das pesquisas, avaliação e premiação dos trabalhos desenvolvidos pelos 13 bolsistas da edição de 2024-2025, além da apresentação dos novos bolsistas do Paic da edição 2025-2026.
O primeiro lugar ficou com a bolsista Patrícia dos Santos Souza, pelo desenvolvimento do projeto “Vigilância Epidemiológica de espécie de cândida em efluentes clínicos: avaliação da carga fúngica em um hospital da cidade de Manaus”.
E o terceiro lugar ficou com José Victor Casas dos Santos, com o estudo “Características Sociodemográficas e Clínicas de pessoas vivendo com HIV/AIDS do Amazonas que abandonaram a terapia antirretroviral: estudo resgata Amazonas”.